Um mês no Canadá

Há exatos 30 dias cruzamos a fronteira do Canadá, o 67º país em nossa aventura pelo mundo. À medida que a gente se aproxima do Alaska, nossa maior meta nesta expedição pelas Américas a bordo da Sprinter A Casa Nômade, os sentimentos ficam à flor da pele. Coração sempre disparado, um aperto no peito e uma constatação: a de que talvez seja possível medir a beleza de um país pela quantidade de vezes que ele nos faz chorar. Sim! Lágrimas de emoção, de alegria, de espanto e, claro, de muita gratidão. No Canadá, essas benditas lágrimas já nos brotaram dos olhos em alguns inesquecíveis momentos. Ao ver de pertinho o salto de uma baleia no Oceano Pacífico, ao ouvir o estampido de uma avalanche no Glaciar Athabasca, ao se deparar com um urso e seu filhote na beira da estrada, ao se encantar com o azul dos lagos do Parque Banff, ao se deixar vencer pelo cansaço e contar bolhas nos pés, depois de 25 quilômetros de caminhada no Lago O’Hara.

Encantos e surpresas no Canadá são proporcionais à grandeza territorial deste país. Confessamos que esperávamos uma mera continuação dos Estados Unidos, mas nossa viagem pelo Sudoeste canadense já mostrou que esse gigante tem identidade própria e um certo ar de Torre de Babel. Afinal de contas, estamos falando de uma terra que ainda bate continência para a Família Real Britânica (pagando impostos para a Inglaterra, cultuando Elizabeth II como a Rainha do Canadá e dando poder a um representante da realeza dentro do Parlamento Canadense); que tem o inglês e o francês como línguas oficiais; e onde mais da metade da população (52%) é imigrante, sendo a maioria indianos, chineses e árabes. Um caldeirão cultural cercado de belezas naturais e vida selvagem por todos os lados.

Nossa viagem pelo Canadá começou pela Costa Oeste, na lindíssima Vancouver. De bicicleta, cruzamos as belas pontes da cidade para explorar todos os seus encantos: o pôr-do-sol no Stanley Park; as praias, os parques e um interessante mercado ao longo da Seaside; a riqueza histórica e cultural preservada no Museu de Antropologia da University of British Columbia (UBC); as pontes suspensas em meio à floresta no Capilano Suspension Bridge Park; e até um curso rápido e gratuito de inglês na biblioteca central de Vancouver.

Para aproveitar o clima ameno da primavera, embarcamos A Casa Nômade em um ferry-boat e seguimos pelo Pacífico adentro até a Ilha de Vancouver. Victoria foi nossa primeira parada na ilha e é impossível não se encantar com os ares europeus da cidade, que tem como ícone o Prédio do Parlamento, inaugurado em 1897. Com a agência The Lioness Tours (com guias fluentes em espanhol para dar todos os detalhes da cidade), visitamos, além do Parlamento, o colorido píer Fisherman’s Wharf, o Castelo Craigdarroch, o Beacon Hill Park e o marco zero da Transcanadian Highway. Destaque para os jardins The Butchart Gardens, que hoje enchem de cores e perfumes florais uma área de 55 acres antes devastados por uma fábrica de cimento.

As praias mais famosas de Vancouver Island estão a oeste da ilha, especialmente em Tofino e Ucluelet, paraíso dos surfistas canadenses. Mas não se iluda! Mesmo nos dias ensolarados da primavera e do verão, as águas são geladas e exigem cuidado especial para esportes radicais e aventuras no mar. Vestidos com roupas térmicas, luvas e gorros, nós embarcamos no passeio da agência Ocean Outfitters Tofino Adventures para ver de perto as baleias que, nesta época, migram para os canais da Ilha de Vancouver em busca de alimentos e de sossego para criar os filhotes. Tímidas, mas belíssimas, as gigantes do Pacífico nos presentearam com rápidas aparições. Com a agência Hello Nature, fizemos um delicioso passeio de caiaque no Pacífico e vimos de perto águias e leões marinhos.

No outro extremo de Vancouver Island, em Campbell River, a maior atração: baleias jubarte e golfinhos em um verdadeiro balé nas águas do Pacífico. Com a agência Discovery Marine Safari, percorremos um conjunto de ilhas e canais para admirar esses animais bem de perto. Impossível conter as lágrimas ao ver a jubarte respirar com seu característico esguicho de água e, em seguida, saltar diante dos nossos olhos. Mas quem pulou, saltou e mergulhou de verdade foram os eufóricos golfinhos, que pareciam se exibir para os incrédulos turistas.

De volta ao continente, hora de curtir três maravilhas da estrada cênica Sea to Sky. A primeira delas, o teleférico Sea to Sky Gondola que, literalmente, nos leva do mar ao céu em poucos segundos para admirar, lá do alto, a linda paisagem das montanhas aos pés do Pacífico. Poucos quilômetros adiante, o Museu Britannia Mine é uma parada imperdível. A bordo de um pequeno trem, nós percorremos túneis e campos de trabalho do lugar que foi a maior produtora de cobre do Império Britânico entre 1904 e 1974. Com 210 quilômetros de túneis escavados na montanha e um prédio administrativo cuidadosamente preservado, o museu guarda para o final a exibição do documentário Boom, o ponto alto do passeio. Para terminar bem o dia, nada melhor que o sofisticado e relaxante Scandinave Spa Whistler. O silêncio impera nas suas piscinas aquecidas, saunas e salas de meditação, em um convite irrecusável ao descanso.

Preparados para admirar agora uma das mais belas paisagens do mundo? Não importa quão altas sejam as suas expectativas, temos certeza de que os parques Banff e Jasper vão superá-las. Em dez dias nesta região, nossos olhos ainda não se acostumaram à beleza do azul-esverdeado dos seus lagos e é preciso recorrer à física para entender a refração, fenômeno responsável por cores tão intensa. A luz solar se refrata ao entrar em contato com as minúsculas partículas de rocha que, com o derretimento das geleiras, se depositam nos lagos e um azul intenso domina a paisagem, especialmente nos lagos Moraine e Peyto, sem dúvida os mais bonitos do Parque Nacional Banff.

Para se sentir em plena Era do Gelo, siga viagem para o Parque Nacional Jasper. Esqueça as multidões que caminham pelas passarelas e pontos turísticos do Columbia Icefield e prefira contemplar a beleza dos glaciares do alto da trilha Wilcox Pass. No pico da montanha, onde sopra um vento congelante, tem-se a melhor vista das geleiras pendentes nos montes Columbia e Athabasca e, com paciência, sente-se por lá até conseguir ouvir o estampido de uma avalanche no Glaciar Athabasca. Nas tardes de primavera e verão, quando o sol é um pouco mais forte, o desprendimento das placas de gelo provoca um forte estrondo, seguido por uma nuvem de neve a rolar montanha abaixo que, com certeza, também te deixará com os olhos mareados de emoção.

Ursos (grizzly e black), alces e um exótico carneiro das montanhas, o white goat, certamente cruzarão seu caminho no Parque Nacional Jasper. Já estávamos ansiosos para avistá-los e a sorte nos presenteou inesquecíveis oportunidades durante uma cavalgada no Jasper Riding Stables. Sobre o lombo de dóceis cavalos, passeamos por uma hora em meio a árvores centenárias, paramos em mirantes para admirar a linda paisagem e, ao fim do passeio, avistamos uma fêmea e um filhote de ursos grizzly a se fartarem de grama e pequenos frutos silvestres. Os amantes da adrenalina não podem sair do Canadá sem se aventurar pelas corredeiras dos rios que cortam as Montanhas Rochosas. Com a agência Jasper Raft Tours, fizemos um delicioso rafting no Rio Athabasca. Nada de risco e perigo, só um pouco de emoção para curtir a natureza mais selvagem.

Apesar de serem as duas grandes joias do Canadá, os parques Jasper e Banff reúnem apenas uma parte dos encantos das Montanhas Rochosas. Igualmente maravilhosos e bem menos lotados de turistas, os parques Yoho e Kootenay valem a visita. No Parque Yoho, o ponto alto é o Lago O’Hara, com suas águas verde-esmeralda. Acessível apenas de ônibus (com reservas feitas com pelo menos um ano de antecedência) ou em uma caminhada de 25 quilômetros (ida e volta), o O’Hara brinda os visitantes com silêncio e águas calmas que refletem a paisagem dos picos nevados. Já o Parque Kootenay tem fascinantes cachoeiras na primavera, formadas pelo descongelamento da neve. São tantas quedas d’água que é quase impossível contá-las nos 9 quilômetros da trilha de acesso ao Glaciar Stanley, o mais famoso do Kootenay.

Ouça os podcasts dos nossos programas sobre o Canadá na Rádio CBN:
Parque Banff, um “colírio para nossos olhos”
Vancouver: uma cidade linda e com alta qualidade de vida
Balé de golfinhos e baleias em Vancouver Island
Caldeirão cultural e respeito às origens britânicas são marcas do Canadá

 

In English:

Exactly 30 days ago we crossed the border of Canada, the 67th country in our adventure around the world. As we approach Alaska, our highest goal on this expedition across the Americas aboard the Sprinter A Casa Nômade, the feelings are in full bloom. Heart always shot, a tightness in the chest and a realization: that perhaps it is possible to measure the beauty of a country by the amount of times it makes us cry. Yes! Tears of emotion, of joy, of wonder and, of course, of so much gratitude. In Canada, these blessed tears have already leaked out of our eyes in some unforgettable moments. Watching the whale jumping in the Pacific Ocean, when you hear an avalanche crash on the Athabasca Glacier, as you stumble across a bear and its cub at the side of the road, delighting in the blue of the lakes of Banff National Park, to be overcome by the fatigue and to count bubbles in the feet, after 25 kilometers of walk in the Lake O’hara.

Charms and surprises in Canada are commensurate with the territorial grandeur of this country. We confess that we were expecting a mere continuation of the United States, but our trip through the Southwest of Canada has already shown that this giant has its own identity and a certain air of Tower of Babel. After all, we are talking about a land that still beats continence for the British Royal Family (paying taxes to England, worshiping Elizabeth II as the Queen of Canada and giving power to a royalty representative within the Canadian Parliament); who has English and French as official languages; and where more than half of the population (52%) are immigrants, mostly Indians, Chinese and Arabs. A cultural cauldron surrounded by natural beauties and wildlife on all sides.

Our trip through Canada began on the West Coast, in beautiful Vancouver. By bike, we crossed the beautiful bridges of the city to explore all its charms: the sunset at Stanley Park; the beaches, the parks and an interesting market along the Seaside; the historical and cultural richness preserved in the Museum of Anthropology of the University of British Columbia (UBC); the bridges suspended in the middle of the forest at Capilano Suspension Bridge Park; and even a quick free English course at the Vancouver Central Library.

To take advantage of the mild spring weather, we boarded A Casa Nômade on a ferry boat and headed down the Pacific to Vancouver Island. Victoria was our first stop on the island and it is impossible not to be charmed by the European airs of the city, which has as its icon the Parliament Building, which opened in 1897. With the agency The Lioness Tours (with guides fluent in Spanish to give all the details of the town), we visited, in addition to Parliament, the colorful Pier Fisherman’s Wharf, Craigdarroch Castle, Beacon Hill Park and the Mile Zero of the Transcanadian Highway. Highlight The Butchart Gardens, which now fill with colors and flower perfumes an area of ​​55 acres previously devastated by a cement factory.

The most famous beaches of Vancouver Island are to the west of the island, especially in Tofino and Ucluelet, a paradise for Canadian surfers. But do not be fooled! Even on sunny spring and summer days, the waters are chilly and require special care for extreme sports and sea adventures. Dressed in warm clothing, gloves and hats, we embarked on the tour of the Ocean Outfitters Tofino Adventures to see up close the whales that at this time migrate to the Vancouver Island canals in search of food and quiet to raise the young. Timid but gorgeous, the Pacific giants presented us with quick appearances. With the agency Hello Nature, we did a delicious kayak tour in the Pacific and saw eagles and sea lions up close.

At the other end of Vancouver Island, in Campbell River, the biggest attraction: humpback whales and dolphins in a ballet in the waters of the Pacific. With the agency Discovery Marine Safari, we travel a set of islands and canals to admire these animals very closely. Impossible to hold back tears as we saw the hump breathe exhaling his characteristic splash of water and then jumping before our eyes. But it was the euphoric dolphins who jumped, danced and dived for real, which seemed to show off to unbelieving tourists.

Back to the continent, it’s time to enjoy three wonders of the scenic Sea to Sky Highway. The first is the Sea to Sky Gondola cable car that literally takes us from sea to sky in a few seconds to admire the beautiful landscape of the mountains at the foot of the Pacific. A few miles further, the Britannia Mine Museum is a must-see stop. On board a small train, we traversed tunnels and workplaces of the mine that was the largest copper producer of the British Empire between 1904 and 1974. With 210 kilometers of tunnels dug into the mountain and a carefully preserved administrative building , the museum holds for the final exhibition of the documentary Boom, the highlight of the tour. To end the day well, nothing beats the sophisticated and relaxing Scandinave Spa Whistler. Silence reigns in its heated swimming pools, saunas and meditation rooms, in an invitation to rest.

Ready to admire one of the most beautiful landscapes in the world? No matter how high your expectations are, we are sure that Banff and Jasper parks will outdo them. In ten days in this region, our eyes have not yet become accustomed to the beauty of the blue-green of their lakes and physics must be used to understand refraction, a phenomenon responsible for such intense colors. Sunlight is refracted when it comes into contact with the tiny particles of rock that melt away from the glaciers in the lakes and an intense blue dominates the landscape, especially in the Moraine and Peyto lakes, undoubtedly the most beautiful in the National Park Banff.

To feel in the midst of the Ice Age, head for Jasper National Park. Forget the crowds that walk the walkways and sights of the Columbia Icefield and prefer to contemplate the beauty of the glaciers at the top of the Wilcox Pass trail. At the peak of the mountain, where a freezing wind blows, you have the best view of the glaciers hanging over the Columbia and Athabasca Hills and, patiently, sit there until you hear the avalanche boom on the Athabasca Glacier. On spring and summer afternoons, when the sun is a little stronger, the detachment of the ice sheets provokes a loud crash, followed by a cloud of snow rolling down the mountain that will surely also leave you with wet eyes of emotion.

Bears (grizzly and black), elk and an exotic mountain sheep, the white goat, will surely cross your path in Jasper National Park. We were already looking forward to seeing them and luck presented us with unforgettable opportunities during a ride on the Jasper Riding Stables. On the back of docile horses, we strolled for an hour amidst century-old trees, stopped in lookouts to admire the beautiful landscape, and at the end of the walk, we saw a female and a grizzly bear cub getting fed up with grass and small wild fruits. Adrenaline lovers can not leave Canada without venturing through the rapids of the rivers that cut the Rocky Mountains. With the agency Jasper Raft Tours, we did a delicious rafting on the Athabasca River. No risk and danger, just a little excitement to enjoy the wilder nature.

Although Canada’s two great jewels, Jasper and Banff parks collect only part of the charms of the Rocky Mountains. Equally wonderful and much less crowded with tourists, the Yoho and Kootenay parks are worth a visit. In Yoho Park, the highlight is Lake O’Hara with its emerald green waters. Only accessible by bus (with reservations made at least a year in advance) or a 25 km (round-trip) walk, the O’Hara offers visitors with quiet and still waters that reflect the landscape of the snowy peaks in the its surroundings. Kootenay Park has fascinating spring waterfalls, formed by the thawing of snow. There are so many waterfalls that it is almost impossible to count them in the 9 km of the access trail to the Stanley Glacier, the most famous of Kootenay.

 


3 comentários sobre “Um mês no Canadá

  1. Lindo relato! Lindas fotos! Vindo de amigos tão sensíveis e queridos aquecem ainda mais o coração e trazem beleza aos nossos dias. Que as redes sociais possam se contaminar de tanta paz e beleza.
    Deus abençoe a jornada!

    Curtir

  2. Boa tarde, parabéns pela viajem, estou acompanhando desde o início. Já fiz 2 viagens de Motorhome, EUA e Europa. Estamos indo para o Canadá dia 29. Alugamos um Camper. Vamos fazer praticamente o mesmo roteiro. Reservamos um local para estacionar em Banff, no restante não. será que consigo lugar para parar e dormir de graça? Obrigado.

    Curtir

Deixe um comentário